02/03/2007

Com uma mão à frente e... a outra também!

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Era uma vez...
um país chamado Portugal.
Portugal herdou de seu pai, Afonso, elevados níveis de testosterona e eventual excesso de dopamina. Foi um puto traquina e um adolescente aventureiro. Ainda criança, foi apresentado a Inglaterra, de quem se tornou amigo, mas sem vontade de casar. Conheceu também Flandres, mas achava-a desengonçada - na verdade, não se sentia atraído pelas raparigas europeias, muito pálidas e demasiado vestidas para o seu gosto, perdia-se antes pelas mais exóticas, quentes e húmidas...

Índia foi a sua grande paixão, pouco mais que platónica, diga-se. Portugal ainda se lambuzou em novos cheiros e sabores, mas Índia nunca permitiu grandes avanços, a impetuosidade de Portugal não combinava com a sua filosofia tantra. Entretanto, nos intervalos do flirt com Índia, Portugal ia reparando em África, uma jovem com fabulosos atributos naturais, mas sem o encanto inebriante de Índia. Já não era jovem quando se convenceu que Índia nunca iria ser sua. Resolveu que era tempo de assentar - decidiu-se a casar com África. Nem chegou a perguntar a opinião à sua consorte, seguiu o método africano, casa primeiro e pergunta depois, à boa maneira de seu pai (de namoro já ele estava farto com a Índia, além do mais não tinha dinheiro para o dote). Apesar do método, Portugal estava convencido de que esta História tinha chegado ao ponto em que se diz «tiveram muitos filhos e foram felizes para sempre!».

Mas não foram. O vigor de Portugal já não era o de outrora e ele vivia atormentado com a ideia de não conseguir satisfazer África. Diz-se que o corno é o último a saber, mas Portugal começava a sentir um peso... na consciência. África começava a notar o assédio de outros, mais jovens e poderosos. O amor antigo, Índia, procurava agora denegrir Portugal e incentivava África à separação. Além disso, duas raparigas muito atrevidas, Rússia e Cuba (sobretudo esta, de língua muito afiada), parece que andavam a "fazer a cabeça" a África para por a malas de Portugal à porta. Portugal tinha visões de Nª Srª dizendo-lhe que Rússia estava no mau caminho e haveria de se arrepender. Impotente, Portugal rezava. As brigas do casal eram diárias e começavam a preocupar os vizinhos.

Com peso na consciência, Portugal saíu de casa numa noite de 24 de Abril, foi p'ós copos no Bairro Alto, Chiado, R. do Arsenal, Cais do Sodré... grande piela, vomitou monelhos de cavelo e... sentiu-se como novo! Ainda passou mais uns dias na borracheira e, quando voltou a casa, foi para pedir desculpas a África - ela podia ficar com tudo. Portugal trouxe alguns filhos para morar consigo, mas praticamente apenas com a roupa que tinham no corpo e uns poucos brinquedos na mão. Portugal não se importava, estava feliz e ia p'ós copos todas as noites. Rússia começou a seduzi-lo e até marcaram um encontro num motel, mas, no caminho, Portugal foi apanhado com excesso de álcool, passou a noite na esquadra, levou um raspanete do Juiz FMI e, à saida do Tribunal, já não se lembrava do seu destino.

A ressaca deixou marcas. Portugal foi colocado sob rigorosa dieta e andava muito deprimido. Apresentou-se às velhas Inglaterra e Flandres (às quais se juntou uma diligente viúva rica, Germânia de seu nome), com uma mão à frente (litoral) e outra atrás (interior). Além de pobre, estava doente e elas mandaram-no ao Dr. Delors, que lhe diagnosticou arteriosclerose e hipertensão. Receitou-lhe sildenafil em comprimidos azuis designados ECU. Os efeitos sobre a hipertensão foram nulos, mas produziu-se um efeito secundário de relevo - estava Portugal a fantasiar com uma relação entre a sensual Ota e o fogoso TGV, quando notou que as partes da frente estavam a crescer... embaraçado, Portugal tirou a mão de trás e juntou-a à que já tinha à frente... Oops, pensou Portugal, ai se o Castelhano dá conta!
Castelhano é um vizinho de Portugal - ainda são primos. Castelhano também tinha muita testosterona e, quando era jovem e apanhava Portugal distraído, tentou muitas incursões pelo interior. Portugal sempre se defendeu bem, mas agora, com o interior destapado, teme-se o pior!
Cartoon de Luis Afonso, Sábado Nº148, 1/3/07

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