02/06/2009

A difícil relação de alguns jornalistas com os números

Admito que não seja extremamente fácil saber se as diferenças entre os resultados de duas sondagens são ou não significativas. Agora, copiar números e fazer operações aritméticas simples deveria ser um pré-requisito para o acesso à profissão de jornalista! :) Também penso que saber calcular a taxa de mortalidade infantil devesse ser uma preocupação do Director de um dos mais conceituados diários portugueses quando se propõe usar essa posição para escrever sobre mortalidade infantil no dito diário.
Através deste post de Pedro Almeida Vieira, cheguei a esta afirmação no DN de hoje: «em 1979, com uma população bem menor do que a actual, morriam neste país 8000 crianças antes de cumprirem um ano de vida; hoje, morrem 320».
Em primeiro lugar, estranho os números. O INE diz que em 1979 morreram pouco mais de metade dos propalados 8000. Em segundo lugar, e isso é realmente o importante, pior do que comparar a evolução em números absolutos (8000 vs. 320), só mesmo compará-los com a população ("população bem menor do que a actual"). Ó sr. Director, se a natalidade for baixa, esse rácio é necessariamente baixo, já que, se não nascer ninguém, também não será fácil que morra alguém com menos de um ano de idade.
Está-se mesmo a ver que a taxa de mortalidade infantil se calcula dividindo óbitos de pessoas com menos de um ano por nados-vivos. É isso que apresento no quadro abaixo, na forma usual de permilagem. Não vale de nada o facto de a população ser agora "bem maior" do que em 1979. Se a taxa de mortalidade não se tivesse alterado de 1979 para cá, teríamos agora 2667 mortos com menos de um ano (última coluna), muito menos do que os 8000 que o sr. jornalista imaginou e bastante menos do que os 4172 que foram registados.


Obviamente, isto em nada diminui o mérito da redução deste indicador. A taxa de 2007 é 7,5 vezes menor do que a de 1979. É apenas a constatação de que o jornalista utiliza uma desinformação numérica para fazer valer a sua opinião - sem necessidade, porque os números correctos seriam suficientes.

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